
Parada Gay do Rio consolida movimento carioca e cidade do Rio é escolhida como melhor destino gay do mundo
*Well Castilhos
(publicado originalmente no Portal Mundo Angel) - http://www.mundoangel.com.br/colunas/
Gente, viramos a Geni!
No dia 11 de outubro, o prefeito de Caxias (Duque de Caxias – RJ, não Caxias do Sul – RS), Camilo Zito (PSDB), proibiu a realização da 4ª Parada LGBT do município no dia em que o evento ia acontecer, alegando ter tomado a decisão por diferentes motivos: em consideração a cartas assinadas por pastores e pela Igreja Católica, que o evento “fere os valores da família”, que atrai pessoas de outras cidades que praticam atos libidinosos e bagunça e que havia sugerido aos organizadores que o fizessem em um clube (sem noção!!). Na época, eu achei que as coisas que ele falou ninguém mais falaria (mesmo se tivesse vontade, pra não parecer politicamente incorreto, dado o respeito que o nosso movimento LGBT tem conquistado). Eu estava errado. Parece que a atitude de Zito abriu uma espécie de Porta de Narnia para um mundo paralelo onde se pode dizer tudo, e onde gays, lésbicas, travestis e transexuais parecem nem ter título de eleitor.
Duas semanas depois foi a vez do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), dar o seu desastroso recado: ele disse no programa "Escola de Governo", veiculado pela TV Educativa daquele estado (comparativamente de gente muito mais bem educada que a de Caxias, na Baixada Fluminense), que o câncer de mama em homens deve ser "conseqüência de passeatas gay". Logo depois, Requião afirmou ter sido “impiedosamente criticado” e que estava apenas se referindo aos riscos que o abuso de hormônios femininos, com fins terapêuticos ou estéticos, representam para a saúde. Entre os riscos, o câncer de mama. Confesso que não consegui até agora resolver o enigma e encontrar uma conexão entre o “uso de hormônios femininos – Passeatas Gay – Câncer de mama”. Na verdade, parece até aquele joguinho “odd word out”, em que você tem que achar a palavra que não tem nada a ver com as outras.
Requião tentou consertar, mas a emenda saiu pior do que o soneto. Ao que tudo indica, ele agora achou uma válvula de escape – as travestis e transexuais que freqüentam as Passeatas e usam hormônios – para se desculpar. Francamente, governador! Pior do que essa, só a desculpa de um dos bandidos assassinos do coordenador do AfroReggae, Evandro João da Silva, morto em assalto no domingo 18 no Centro do Rio. O “meliante” insinuou que só estava querendo dar um susto em “uns caras que estavam cometendo atos libidinosos na rua”, como se isso fosse moralmente justificar o vandalismo que eles fizeram. Mas eles só disseram isso porque acham que, em um país como o nosso com tantos Zitos e Requiões, alguém vai atenuar sua sentença porque estavam somente querendo manter a ordem e os bons costumes.
O problema é que os caras estão muito à vontade para falar da gente. Parece que viramos a Geni da música do Chico Buarque: “Joga pedra na Geni, Joga bosta na Geni Ela é feita pra apanhar, Ela é boa de cuspir...” Alguém outro dia estava me questionando se a fórmula das Paradas, enquanto modalidade de manifestação, estava desgastada ou não. Não, com todo esse contexto vemos que temos que fazer ainda muitas Passeatas. Pelo que sei, o Brasil realiza quase 150 Paradas LGBT, o que torna o país um campeão mundial não somente na ocupação e uso do Orkut. Mas ainda parece não ser o suficiente para calar pessoas como o prefeito de Caxias e o governador do Paraná e fazê-los fechar as bocas e deixar de dizer besteira. Minha avó me dizia que em boca fechada não entra mosca. Ah, e uma daquelas indianas da novela Caminho das Índias também falou: “Só abra a boca quando você tiver certeza que aquilo que você vai dizer é mais importante que o silêncio”. Então tá!
A propósito: domingo (01/11) estive na Parada do Orgulho do Rio de Janeiro. Foi um luxo! Mesmo embaixo de chuva, 17 trios elétricos, presença maciça da população – e também do governador Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes e do ministro Carlos Minc, que anunciaram medidas super importantes, entre elas a criação de um órgão municipal para tratar da população LGBT (a exemplo do que fez o estado). Letícia Spiller estava linda em um vestido verde representando o apoio da classe artística.
Ah, e acabo de saber que o Rio foi escolhido como melhor destino gay do mundo. Espero que com esse título, a cidade realmente passe a se tornar o melhor destino pra LGBTs... Não acredito que já seja – há uma visão de relacionar o Rio a tudo que tem a ver com sexualidade, corpos expostos etc, mas assim como ainda não está preparada para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, ainda pode se preparar para assumir de fato o posto de cidade número 1 para gays.
*Well Castilhos é jornalista e presidente do Grupo Liberdade LGBT de São Gonçalo. É responsável pelo website do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CLAM/UERJ) – www.clam.org.br – e pelo blog Santa Diversidade (www.santadiversidade.blogspot.com)
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