Reviravolta no caso Alexandre Ivo

Em audiência no Forum de São Gonçalo, policiais são acusados por testemunha de manipular depoimento

“Somos skinheads. Não gostamos de veados”. A afirmação, cuja autoria foi atribuída em depoimento à polícia pelo jovem J.R., de 19 anos, aos supostos assassinos do adolescente Alexandre Ivo, logo após o crime, em junho do ano passado, foi desmentida pela própria testemunha durante audiência no Forum de São Gonçalo, na quinta-feira, 03 de fevereiro. Segundo J.R., seu depoimento na 72ª DP teria sido manipulado pelos policiais que o ouviram na ocasião, e as palavras nunca foram ditas pelos três acusados do assassinato, mas sim teriam sido “plantadas” pelo inspetor Rubinho, então encarregado das investigações do caso, para “dar ênfase” a seu depoimento. “Mas a gente só dá ênfase a algo que já foi dito”, questionou a juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo.

Agora, os policiais – 3 inspetores e o delegado titular da distrital, Geraldo Assed – serão ouvidos pela juíza e pelo promotor público, em audiência marcada para o dia 29 de março. O rapaz foi lembrado pela magistrada de que pode vir a ser preso por falso testemunho ao acusar policiais de manipulação, caso a acusação não proceda. As outras duas testemunhas ouvidas na audiência da semana passada – duas moças também amigas do adolescente morto – confirmaram a versão. A audiência começou por volta das 17h30 e terminou às 3h30 da madrugada.

Para quem acompanha o caso desde o início, no entanto, duas outras afirmações do jovem durante a audiência no Forum também chamaram a atenção: na época, ele mesmo revelou aos jornais ter sido perseguido por um grupo de skinheads (releia a notícia em http://www.osaogoncalo.com.br/site/polícia/2011/2/8/14099/na+mira+dos+skinheads). Resta a pergunta: teria sido também a polícia que o obrigara a inventar tal história?

Outro ponto do depoimento do J.R. que chamou a atenção foi quando, ao ser perguntado pelo promotor em que local do terreno baldio o corpo de Alexandre havia sido encontrado, o rapaz afirmou ter sido “no meio” do local. Só que, minutos antes, ainda questionado pelo promotor se ele e os outros jovens de sua turma costumavam freqüentar o local para usar drogas, ele havia dito nunca terem pisado lá e que nem mesmo conheciam o terreno.

A juíza advertiu o rapaz – homossexual assumido – caso este estivesse querendo omitir – ou proteger – algo (ou alguém). “Em nosso país, ainda se mata por causa da orientação sexual diferente de uma pessoa. Quem matou o Alexandre de forma tão cruel estava com ódio dele, talvez por conta de sua orientação sexual, e o mesmo pode acontecer com você e com outras pessoas. Homofobia mata! Pensa nisso”, salientou.

O rapaz contou ainda que conhecia a vítima há 3 anos, portanto desde que esta tinha 11 anos de idade. “Não sabíamos que Alexandre tinha 14 anos. Ele nos contava que tinha 16”, disse J.R.

A mãe do adolescente, entretanto, não acredita na versão. “Eles não podiam conhecer Alexandre desde os 11 anos, pois com esta idade meu filho quase nem saía de casa. Ao que parece, os depoimentos durante o inquérito policial foram um misto de fantasia e realidade. Só que agora a Justiça está fazendo com que tudo venha à tona, e o que é realidade apareça. A mentira tem perna curta. Mais cedo ou mais tarde, a verdade vai aparecer”, afirma Angélica Ivo.