O Terra Magazinde noticiou um fato ocorrido durante a Parada LGBT do Acre - realizada no domingo (20/11), em Rio Branco - e que está causando polêmica e debates na Assembléia Legislativa daquele estado: enquanto um trio elétrico tocava o hino evangélico “Faz um milagre em mim”, um homem fazia “boquete” (felação) no pênis de borracha usado por outro homem (foto ao lado), quando os manifestantes caminhavam na Via Chico Mendes, em direção ao estacionamento do estádio Arena da Floresta. Deputados da bancada evangélica já manifestaram descontentamento ao líder do governo, deputado Moisés Diniz (PCdoB), por causa de uma performance registrada durante o evento.
A performance, fotografada pelo blogueiro Marcos Venícius, está tendo enorme repercussão nas redes sociais do Acre.
- O estado não deveria ajudar nenhuma manifestação desse tipo. Minha divergência nesse nesse campo abrange o meu governo, os evangélicos e católicos. Manifestação religiosa, de gênero e cor, o estado tem que ficar à margem. A pornografia depõe contra o movimento. Existem regras de convivência na sociedade. O que fizeram é abominável e se tornou um tiro no pé do movimento - acrescentou o líder do governo, autor de uma lei estadual do Dia da Diversidade.
O ativista Germano Marino, presidente da Associação de Homossexuais do Acre, considera “mentira absurda” que o “boquete” tenha ocorrido enquanto estava sendo cantado o hino evangélico.
- É só prestar atenção na foto para perceber que as pessoas estavam caminhando. A interpretação do hino estava sendo realizada na concentração, no Calçadão da Gameleira, com as pessoas paradas. Sobre a apresentação do hino, este foi interpretado fantasticamente bem pelo cantor Gentil Quimel, que por muitos anos participou da Assembleia de Deus, e que por ela mesma foi expulso por ser homossexual - afirma Marino.
Para o presidente da Associação de Homossexuais do Acre, o que está por trás das críticas é o preconceito e a homofobia. No entendimento dele, como a foto foi tirada na Parada Gay, os “militantes fervorosos da discriminação, da homofobia, do racismo, do machismo e do fundamentalismo, se aproveitam para reafirmar os seus posicionamentos retrógrados e falsos moralistas. No Carnaval, cenas como estas não são tão provocativas. Não é que a Parada Gay seja um carnaval fora de época, mas é a expressão da população em estar participando de um evento que vem somar com o gosto e a cultura popular. E quem disse que fazer sexo oral com preservativo não é uma política de estado oriunda do ministério da saúde? - indaga Marino.
O presidente da Associação dos Homossexuais do Acre disse que o governo estadual “gastou apenas” R$ 30 mil com a organização do evento.
MINHA INTERPRETAÇÃO DOS FATOS
Sem querer ser moralista, devo concordar com o líder do governo na Cãmara acriana de que "A pornografia depõe contra o movimento". Por sermos já discriminados, eventos como nossas Paradas são apenas toleradas (já que ocorrem em nível mundial e não se pode simplesmente proibir) e somos vigiados o tempo todo. Lembro que recentemente o argumento usado pelo prefeito Zito, de Duque de Caxias (RJ), ao tentar proibir a Parada LGBT daquele município, foram as "cenas de sexo explícito" que alguns participantes (não necessariamente pessoas LGBT, muitas vezes são heterossexuais) insistem em protagonizar durante o evento. Lembro de nossa companheira Sharlene Rosa, realizadora do evento em Caxias, chamando a atenção de uma moça heterossexual que tentava fazer um "boquete" em um rapaz heterossexual atrás de um arbusto, durante a Parada em outra data, depois que finalmente a Prefeitura havia concordado com a realização do evento. Muito correta a postura de Sharlene, mas devemos lembrar que as Paradas são um evento de massas, que reúnem milhares de pessoas, e muitas vezes nos é difícil, como organizadores, fiscalizar atitudes e comportamentos individuais. Infelizmente coisas deste tipo acontecem.
Mas não devem NUNCA serem defendidas pelos organizadores. Por isso, não concordo com o ativista Germano Marino, presidente da Associação de Homossexuais do Acre, ao tentar desculpar o fato, considerando “mentira absurda” que o “boquete” tenha ocorrido enquanto estava sendo cantado o hino evangélico.
Se foi feito antes, durante ou depois do hino evengélico não interessa! O melhor seria que tal performance não tivesse acontecido momento algum durante o evento. Ele também se equivoca ao insinuar que fazer sexo oral com preservativo é uma política de estado oriunda do ministério da saúde, e que por isso não seria um problema tão grande assim. Sim, fazer sexo oral com camisinha é apregoado pelo Ministério da Saúde, mas o que não quer dizer que tenha que ser feito em público. Outro equívoco do companheiro é comparar a Parada ao Carnaval e dizer que o governo “gastou apenas R$ 30 mil com a organização do evento". Apenas R$ 30 mil?? Quem dera o governo (municipal ou estadual) nos desse esse dinheiro pra realizarmos nossa Parada de São Gonçalo...
Concordo com o companheiro ativista quando ele diz que “os militantes fervorosos da discriminação, da homofobia, do racismo, do machismo e do fundamentalismo, se aproveitam para reafirmar os seus posicionamentos retrógrados e falsos moralistas." Sim, como disse anteriormente, eles estão sempre a postos para nos vigiar. Por isso todo cuidado é pouco, e não podemos NUNCA municiá-los para que eles virem suas ogivas contra a gente, convencendo a sociedade de que somos pecaminosos, doentes e promíscuos. Tudo vai depender da forma como nos comportamos. Afinal, a sociedade tem regras sociais que todos nós, independente de sexo, cor e religião devemos seguir para uma convivência harmônica.
Senão seremos vítimas de ditos discriminatórios como aquele criado pelos racistas que diz: "Preto quando não caga na entrada, caga na saída". Lembram? Substituindo a palavra "preto" por "gay", pode-se imaginar o que os homofóbicos e fundamentalistas de plantão irão dizer a nosso respeito se dermos munição (motivo) a eles, como o que foi feito na Parada do Acre.
SOBRE O BEIJAÇO EM SÃO GONÇALO...
Exatamente por não querer dar munição aos militantes da homofobia é que nós, do Grupo Liberdade LGBT de São Gonçalo, não concordamos com um beijaço organizado por um integrante de outro grupo militante de nossa cidade em frente à Prefeitura municipal, no dia 7 de novembro, em virtude de supostamente a prefeita Aparecida Panisset não estar disposta a assinar dois projetos de lei relativos à diversidade sexual: um que institui o 17 de maio como Dia Municipal de Combate à Homofobia (a data já é instituída como o Dia MUNDIAL de Combate à Homofobia) e outro que torna a Parada LGBT do município patrimônio cultural, assim como é o evento religioso de Corpus Christi.
Bem, não estivemos presentes ou apoiamos tal Ato porque consideramos "beijaço" uma forma de enfrentamento, um último recurso, o qual não se aplica ao caso. Primeiramente porque a prefeita, pelo que sabemos, não foi procurada anteriormente pelos manifestantes para um diálogo a respeito dos dois projetos. Segundo porque, à ocasião do tal "beijaço", ela nem estava na cidade, estava viajando em agenda no exterior (eles deveriam se informar primeiro, antes de fazer o Ato, já que a manifestação era para ela). Em terceiro, porque a manifestação reuniu um grupo parvo de pessoas que, ao todo, pelo que soube, formou apenas 4 casais. Então, o que seria um ato reivindicatório, acabou se transformando em algo que depôs contra o movimento local, aparentando somente ser um grupo de pessoas que queriam apenas aparecer às custas do movimento. Para o tal "movimento", foi um tiro no pé. Para os conservadores, uma vitória. Para a sociedade, uma vergonha, motivo de gozação.
*Well Castilhos
Presidente do Grupo Liberdade LGBT de Sâo Gonçalo
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