Na ficção, Globo aborda transexualidade com sensibilidade em minissérie
Nós, do "Grupo Liberdade LGBT/Santa Diversidade!", fazemos coro à ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais), que veio a público congratular a Rede Globo pela veiculação, na semana em que se comemorou o Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro), do assunto da transexualidade na minissérie Brado Retumbante, em especial a cena em que a personagem do Presidente Venturi (Domingos Montagner) assumiu em cadeia nacional que errou profundamente na sua vida pessoal ao rejeitar o “filho homossexual, por preconceito e intolerância” e que a “rejeição causou ao filho sofrimento enorme... quase o matou”. Ainda, o fictício presidente da república pediu desculpas públicas à filha Julie (personagem transexual vivida pelo ator Murillo Armaciollo, na foto ao lado) e todos aqueles que já sofreram com essa dor. (veja links abaixo).
A veiculação da minissérie naquela semana foi especialmente oportuna, tendo em vista que 29 de janeiro é o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Importante destacar que travestis e transexuais estão entre as pessoas que mais sofrem preconceito, discriminação e estigma. Pesquisas realizadas nas Paradas LGBT no Rio de Janeiro (2004), São Paulo (2005) e Pernambuco (2006) revelam que são elas/eles que mais sofrem violência física (72%), comparado com os gays (22%) e as lésbicas (9%). Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, as travestis e transexuais representam 30% das pessoas LGBT assassinadas nos últimos anos. Proporcionalmente, esse dado é muito grave, considerando que a população de travestis e transexuais é muito menor que o índice de gays e lésbicas. Na maioria das vezes, as travestis e as/os transexuais sofrem rejeição da família, abandonam a escola sem terminar os estudos e enfrentam grandes dificuldades de inserção no mercado de trabalho, entre outras iniquidades vivenciadas, de modo a torná-las altamente vulneráveis social e pessoalmente.
Assim, ao abordar esse assunto com tamanha sensibilidade e ousadia, a Rede Globo prestou um serviço de imensurável valor de desmistificação da transexualidade e sensibilização junto à sociedade em geral – e em especial junto aos pais e mães de filhos LGBT – quanto ao respeito à diversidade. Sabemos o poder que a mídia tem tanto na manutenção quanto na desconstrução de estigmas e preconceitos junto ao grande público, embora saibamos também que este grande público já não é o mesmo público passivo de antes - vide a reação das pessoas à baixaria imposta pelo programa Big Brother Brasil, cuja direção teve que se retratar e estipular certos limites após a acusação do suposto estupro ocorrido dentro do reality.
De todo modo, em relação à abordagem da transexualidade na minissérie Brado Retumbante a emissora acertou em cheio. Parabéns a todos e todas os(as) profissionais pelo belíssimo trabalho. Como diz o comunicado da ABGLT, "que a ficção possa estar iluminando a realidade e que um dia quem sabe os mandatórios desse país possam seguir esse exemplo.
http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1782751-7822-EM+REDE+NACIONAL+PAULO+ASSUME+TER+UM+FILHO+TRANSEXUAL+E+FALA+DO+CONFLITO+COM+A+BOLIVIA,00.html
http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM1782742-7822-JULIO+CONVERSA+COM+O+PAI+A+RESPEITO+DE+SUA+SEXUALIDADE,00.html
Na vida real, travestis e transexuais poderão incluir nome social nos boletins de ocorrências policiais no Rio de Janeiro
Na mesma semana, a chefe de Polícia Civil do Rio, delegada Martha Rocha, anunciou que as travestis e transexuais terão a inclusão do nome social nos registros de ocorrência das delegacias de todo o estado. Segundo Martha Rocha, antes do carnaval uma portaria será assinada com essa determinação.“Vamos realizar reuniões com os delegados titulares e treinamento aos policiais para receberem essa população nas delegacias”, disse.
A chefe de Polícia Civil, declarou ainda que a medida está de acordo com o Decreto 43.065, assinado em 8 de julho de 2011, que dispõe sobre o direito ao uso do nome social por travestis e transexuais na administração direta e indireta do estado.
“A Polícia Civil estará inserindo no seu registro de ocorrência o nome social das travestis e transexuais. Vítimas e testemunhas de crimes poderão usar este nome. O nome social será incluído junto com o nome do registro civil. Nosso objetivo é que essas pessoas não sejam vitimizadas pela segunda vez nas delegacias”, declarou.
A portaria proporcionará a composição de dados oficiais sobre homicídios e outros crimes contra travestis e transexuais – população que mais sofre com a transfobia e discriminação. “A inclusão do nome social nos registros de ocorrência assegura ao estado saber quais são os crimes de maior incidência contra essa população travesti e transexual. Além disso, mostra para essas pessoas que elas são cidadãs como qualquer outra”, afirma Cláudio Nascimento, superintendente de Direitos Individuais, Coletivos e Difusos da Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos.
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