A decisão de Zito nos dá a idéia do que pode acontecer sem Lula, a partir de 2010
Well Castilhos*
Copacabana, 2 de outubro – 13h50. As 30 mil pessoas reunidas na Avenida Atlântica vibraram com a noticia da escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.
Duque de Caxias, 11 de outubro – 14h50. As mais de 50 mil pessoas reunidas na Avenida Brigadeiro Lima e Silva protestaram com vaias e frases do tipo “Alô prefeito / que papelão / você vai ver / na próxima eleição” contra a decisão do prefeito José Camilo Zito de proibir a realização da 4ª Parada LGBT do município localizado na Baixada Fluminense, não por acaso um dos locais mais homofóbicos do estado.
Embora diferentes em sua essência, pode-se estabelecer uma relação entre as duas notícias acima citadas. Acredita-se que o Brasil tenha sido escolhido para sediar os jogos olímpicos de 2016 devido à posição e à credibilidade que o país – e o nosso presidente, Luis Inácio Lula da Silva – ocupam no cenário internacional. Sim, tudo leva a crer que o Brasil vai ocupar um lugar no exclusivo grupo de países desenvolvidos, dado o seu desenvolvimento econômico observado nos últimos anos. Mas em qual outro país desenvolvido – tomemos como exemplo o G8, grupo formado pelos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia – aconteceria um descabimento como o que vimos em Caxias no domingo 11? Em qual destes países já se teve conhecimento de uma atitude tão intolerante, totalitária, fundamentalista e obscurantista de um prefeito a ponto de proibir uma das mais populares – e legítimas – manifestações do país e que acontece nas principais cidades do mundo? A resposta é: nenhum. Em todos os países desenvolvidos descritos acima há o respeito pela diversidade de seus povos, seja esta racial, religiosa ou por orientação sexual. Aliás, em todos (ou na maioria deles) os homossexuais têm direitos iguais e/ou equivalentes a qualquer heterossexual. Há políticas públicas e leis protetivas, inclusive.
Então, como é que o Brasil espera pertencer a um grupo sem compartilhar os mesmos ideais e a mesma ética que seus outros componentes? Desenvolvimento econômico por si só não basta. A economia tem que estar acompanhada de um desenvolvimento humano, de cabeças e mentes de sua população e seus governantes.
Em sua argumentação Zito vai na contramão de tudo o que é considerado politicamente correto em se tratando de LGBT, alegando coisas que ninguém mais fala (mesmo tendo a vontade de). Foi desastroso em tudo: afirmou ter tomado a decisão levando em consideração cartas assinadas por pastores e pela Igreja Católica (cruzes!), que o evento “fere os valores da família” (que família??), que não são oriundas da cidade "as pessoas que praticaram atos libidinosos e bagunça" nas três edições anteriores do evento (xenófobo?) e que havia sugerido aos organizadores que o fizessem em um clube (sem noção!! huahuahua). Fazer uma manifestação política em um clube? Deveríamos cobrar ingresso, prefeito?
É festa?
Na verdade, o engano de Zito é o mesmo de muito outros: acham que a Parada LGBT é uma festa. Seria, se tivéssemos motivos para festejar. Pesquisas realizadas nas próprias Paradas (pelo CLAM/CESEC) mostram que cerca de 80% das pessoas entrevistadas já foram vítimas de discriminação ou violência devido a sua orientação sexual. De acordo com pesquisa do antropólogo Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e militante do Grupo Gay da Bahia (GGA), um gay é morto a cada dois dias no Brasil. Em lugares como a Baixada Fluminense, região onde a cidade de Caxias é localizada, as travestis são as maiores vítimas da violência, como mostra documentário do cineasta Vagner de Almeida.
Festa, sr. prefeito Zito, faremos quando o PL 122 – que propõe a criminalização da homofobia no país – for aprovado. A diferença entre a manifestação LGBT e outras é que, a despeito de todos os infortúnios acima citados, encontramos ainda criatividade para manifestar: no lugar dos antigos megafones e velhas kombis, usamos microfones e trios elétricos para que todos nos escutem. E a música também foi o meio encontrado para dar visibilidade à nossa luta. Uma anarquista feminista do século XIX chamada Emma Goldman certa vez afirmou: “De que me vale a revolução se eu não posso dançar?”.
É claro também que não devemos entender a medida do prefeito como uma decisão isolada: é claro que ele ouviu suas bases partidárias, no caso o PSDB, o mesmo que está por trás de candidaturas como a de Zito, a de Alice Tamborindeguy (sem comentários) e a de Marina Silva. Por isso, gente, cuidado na hora de votar no ano que vem. Não vou fazer partidarismos para o PT, mas sim para o Lula. É, o mesmo que lá no início deste texto afirmei que está sendo apontado como o grande responsável pela vinda dos jogos Olímpicos para o Brasil. Ele também é responsável pelo projeto de desenvolvimento econômico e humano (neste, ainda estamos começando) que o país está vivendo no momento. Foi ele o primeiro presidente a criar Secretarias Especiais para as Mulheres, de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, o que nos dá hoje a força para responder a atitudes como a de Zito á altura. Não vamos interromper este projeto, vamos? Tomando o tucano Zito como exemplo, podemos vislumbrar o que pode acontecer com nossas liberdades fundamentais caso um governo que tem o PSDB por trás ganhe as eleições presidenciais.
Duque de Caxias, 11 de outubro – 14h50. As mais de 50 mil pessoas reunidas na Avenida Brigadeiro Lima e Silva protestaram com vaias e frases do tipo “Alô prefeito / que papelão / você vai ver / na próxima eleição” contra a decisão do prefeito José Camilo Zito de proibir a realização da 4ª Parada LGBT do município localizado na Baixada Fluminense, não por acaso um dos locais mais homofóbicos do estado.
Embora diferentes em sua essência, pode-se estabelecer uma relação entre as duas notícias acima citadas. Acredita-se que o Brasil tenha sido escolhido para sediar os jogos olímpicos de 2016 devido à posição e à credibilidade que o país – e o nosso presidente, Luis Inácio Lula da Silva – ocupam no cenário internacional. Sim, tudo leva a crer que o Brasil vai ocupar um lugar no exclusivo grupo de países desenvolvidos, dado o seu desenvolvimento econômico observado nos últimos anos. Mas em qual outro país desenvolvido – tomemos como exemplo o G8, grupo formado pelos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Rússia – aconteceria um descabimento como o que vimos em Caxias no domingo 11? Em qual destes países já se teve conhecimento de uma atitude tão intolerante, totalitária, fundamentalista e obscurantista de um prefeito a ponto de proibir uma das mais populares – e legítimas – manifestações do país e que acontece nas principais cidades do mundo? A resposta é: nenhum. Em todos os países desenvolvidos descritos acima há o respeito pela diversidade de seus povos, seja esta racial, religiosa ou por orientação sexual. Aliás, em todos (ou na maioria deles) os homossexuais têm direitos iguais e/ou equivalentes a qualquer heterossexual. Há políticas públicas e leis protetivas, inclusive.
Então, como é que o Brasil espera pertencer a um grupo sem compartilhar os mesmos ideais e a mesma ética que seus outros componentes? Desenvolvimento econômico por si só não basta. A economia tem que estar acompanhada de um desenvolvimento humano, de cabeças e mentes de sua população e seus governantes.
Em sua argumentação Zito vai na contramão de tudo o que é considerado politicamente correto em se tratando de LGBT, alegando coisas que ninguém mais fala (mesmo tendo a vontade de). Foi desastroso em tudo: afirmou ter tomado a decisão levando em consideração cartas assinadas por pastores e pela Igreja Católica (cruzes!), que o evento “fere os valores da família” (que família??), que não são oriundas da cidade "as pessoas que praticaram atos libidinosos e bagunça" nas três edições anteriores do evento (xenófobo?) e que havia sugerido aos organizadores que o fizessem em um clube (sem noção!! huahuahua). Fazer uma manifestação política em um clube? Deveríamos cobrar ingresso, prefeito?
É festa?
Na verdade, o engano de Zito é o mesmo de muito outros: acham que a Parada LGBT é uma festa. Seria, se tivéssemos motivos para festejar. Pesquisas realizadas nas próprias Paradas (pelo CLAM/CESEC) mostram que cerca de 80% das pessoas entrevistadas já foram vítimas de discriminação ou violência devido a sua orientação sexual. De acordo com pesquisa do antropólogo Luiz Mott, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e militante do Grupo Gay da Bahia (GGA), um gay é morto a cada dois dias no Brasil. Em lugares como a Baixada Fluminense, região onde a cidade de Caxias é localizada, as travestis são as maiores vítimas da violência, como mostra documentário do cineasta Vagner de Almeida.
Festa, sr. prefeito Zito, faremos quando o PL 122 – que propõe a criminalização da homofobia no país – for aprovado. A diferença entre a manifestação LGBT e outras é que, a despeito de todos os infortúnios acima citados, encontramos ainda criatividade para manifestar: no lugar dos antigos megafones e velhas kombis, usamos microfones e trios elétricos para que todos nos escutem. E a música também foi o meio encontrado para dar visibilidade à nossa luta. Uma anarquista feminista do século XIX chamada Emma Goldman certa vez afirmou: “De que me vale a revolução se eu não posso dançar?”.
É claro também que não devemos entender a medida do prefeito como uma decisão isolada: é claro que ele ouviu suas bases partidárias, no caso o PSDB, o mesmo que está por trás de candidaturas como a de Zito, a de Alice Tamborindeguy (sem comentários) e a de Marina Silva. Por isso, gente, cuidado na hora de votar no ano que vem. Não vou fazer partidarismos para o PT, mas sim para o Lula. É, o mesmo que lá no início deste texto afirmei que está sendo apontado como o grande responsável pela vinda dos jogos Olímpicos para o Brasil. Ele também é responsável pelo projeto de desenvolvimento econômico e humano (neste, ainda estamos começando) que o país está vivendo no momento. Foi ele o primeiro presidente a criar Secretarias Especiais para as Mulheres, de Igualdade Racial e de Direitos Humanos, o que nos dá hoje a força para responder a atitudes como a de Zito á altura. Não vamos interromper este projeto, vamos? Tomando o tucano Zito como exemplo, podemos vislumbrar o que pode acontecer com nossas liberdades fundamentais caso um governo que tem o PSDB por trás ganhe as eleições presidenciais.
*Well Castilhos é jornalista e presidente do Grupo Liberdade LGBt de São Gonçalo
Quando eu soube do ocorrido em Caxias confesso que senti um nó na garganta. Apesar de não estar participando do evento e não ser morador daquela cidade, eu me senti como se um pedaço da minha liberdade tivesse sido arrancado pelas atitudes absurdas de um déspota que se diz um homem do povo. Uma autoridade que governa de forma tão arbitrária e desigual não merece nunca estar no poder!
ResponderExcluirDentre os absurdos que você citou, Well, eu ainda vi o Zito declarar em uma reportagem da tv que não permitiria eventos "deste tipo" na cidade dele. Preconceito mais do que explícito! Por outro lado, ele autorizou a marcha pra Jesus...Revoltante ver que em pleno século 21 ainda há governantes que se deixam influenciar por instituições religiosas com mentalidade de Idade Média.
Que isto sirva de exemplo, não apenas para os moradores de Caxias, mas para todos os brasileiros LGBT tomarem consciência política e escolherem melhor seus candidatos.
A eleição presidencial está na porta, e o que eu tenho a dizer, plagiando aquela famosa atriz alguns anos atrás é: EU TENHO MEDO DA MARINA SILVA.
Parabéns pelo post.
Beijo grande