*Cleise Campos
Deixando o Largo da Idéia num final de tarde quente no início do ano depois de almoço em família, observava no retrovisor do carro o querido bairro no distrito de Monjolos, na cidade de São Gonçalo: a ausência de ofertas atrativas para a garotada, e aquele retrato de “lugar esquecido por Deus”, serviu de catucada para se pensar em alguma coisa. Em pouco meses, concebemos com pequeno grupo de simpatizantes da leitura, a idéia e implantação de uma biblioteca comunitária: ação principal da Padaria Cultural Vovô Thodinho, também com atividades de memória e identidade local, e projeções de filmes de arte. A doação de livros e arrumações gerais para abrigar a biblioteca, movimenta pessoas de todas as idades do bairro de nome pitoresco em Monjolos, o 3º Distrito da segunda maior cidade do estado fluminense. O Largo da Idéia reproduz quase fielmente o que encontramos por toda cidade, numa lista razoável de “sem”: sem opções culturais, sem tratamento de saneamento básico, sem planejamento urbano, sem escolas e unidades de saúde que atendam a procura-demanda da gigante população, sem programas específicos e contínuos de políticas públicas, que garantam mudanças efetivas no cenário da localidade, refém de poucas alternativas de transporte, escasso acesso a internet ou telefonia móvel.
Mesmo esboçando tal quadro, é certo afirmar: em Monjolos, como nos demais quatro distritos gonçalenses, existem pessoas que amam São Gonçalo. Vivem, trabalham, acreditam, esperam. Uma indagação pode ser colocada neste 22 de Setembro, quando celebramos 121 anos de emancipação política: além de viver, acreditar e esperar, o que podemos projetar para São Gonçalo? O que podemos desejar? Das praias margeadas pela Baia de Guanabara, e alguns pontos turísticos culturais que a cidade abriga, como a Fazenda do Colubandê, a capela da Praia da Luz, a Igreja Matriz, as ruínas da Fazenda do Cerrado e do Palacete do Mimi, e as marcas do recente trilho retirado da Estrada de Trem, o que pode ser projetado no amplo do nosso desejo para esta cidade de mais de milhão de habitantes? Que metas e ações apresentam os governantes e legisladores da cidade, em patamares exeqüíveis e reais? Onde a população pode atuar, para que realidade e desejos estejam irmanados na efetivação de avanços na cultura, educação, saúde, comunicação e lazer, estabelecendo participação civil junto ao poder público, que sozinho não dá conta?
Como os bilhões do COMPERJ – o Complexo Petroquímico da PETROBRAS, podem ser convertidos em desenvolvimento harmônico, sustentável e feliz para os gonçalenses? Como projetar melhores tempos, em tempos de celebrações pelos 121 anos da cidade? Na seqüência da busca pelas respostas, apresentar perguntas é parte preciosa do processo, com espaço bom para reflexão, onde atitude e participação, podem ser ações chaves na projeção dos nossos desejos. Neste setembro de 2011, vale o exercício de olhar por um visor no futuro, São Gonçalo em 2021, 2031, 2041, imaginando nossos desejos saciados. Em tempos de faxina nas casas políticas, de discurso histórico na ONU proferido pela primeira Presidenta do Brasil, pensar um presente coletivo para nossa Gonça, é boa pedida na chegada da primavera, colorindo um tantinho mais, nosso dia-a-dia. No Largo da Idéia, um menino de 6 anos que caminha a pé por quase trinta minutos, para chegar na única escola pública local, separou seus únicos dois livros usados para doação na biblioteca do bairro: ele queria que outras crianças sem livro algum pudessem ter o que ler, quando ele for grande.
22 de Setembro, em 2011.
* Historiadora e Atriz bonequeira, moradora de São Gonçalo-RJ, nascida no Largo da Idéia.
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