quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Entidades LGBT classificam projeto de banheiro para gays de 'apartheid'

Projeto de lei foi apresentado nesta terça na Câmara de São Paulo.


Entidades LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) condenaram nesta quarta-feira (8) o projeto de lei que prevê a criação de um banheiro para homossexuais nos comércios de São Paulo apresentado na terça-feira (7) pelo vereador evangélico Carlos Apolinário (DEM) - o mesmo que no ano passado tentou instituir a Marcha do Orgulho Hétero, lembram?

As organizações afirmam que a medida é segregacionista e pode criar um “apartheid” entre homossexuais e heterossexuais.

O projeto foi gerado no embalo da polêmica proibição sofrida pelo cartunista Laerte Coutinho, que usa roupas de mulher, de utilizar o banheiro feminino. O artista de 60 anos foi advertido no último dia 24 por um dos sócios de uma padaria na Zona Oeste de São Paulo, após uma mulher com uma criança reclamar da sua presença no banheiro feminino. O relato foi feito por Laerte em seu Twitter. Para Apolinário, a presença de travestis em banheiros femininos causa "constrangimento", e a existência de um banheiro unissex pode assegurar ao público homossexual e a quem mais quiser utilizar um banheiro sem preocupações.
Para Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, o projeto visa “criar uma segregação” dos gays e lésbicas da convivência dos heterossexuais. Ele afirma não entender como alguém pode sentir-se incomodado porque um travesti vai ao banheiro feminino. “As mulheres não são objeto de desejo dos travestis. Mesmo se ele vir uma mulher pelada, pode no máximo falar que ela tem um corpo bonito, ou que tem celulite”, diz.

Ele cita também o fato de os banheiros femininos não terem mictórios - o que significa que cada vaso sanitário é usado de maneira reservada.

Para Quaresma, Carlos Apolinário é um perseguidor da comunidade. “Ele recebeu um mandato para trabalhar pelo povo, e passa seu tempo propagando o ódio ou então tentando banalizar o nosso trabalho porque sabe que dá mídia. Quer aparecer”, diz, em referência ao Dia do Orgulho Heterossexual, que Apolinário tentou criar por meio de um projeto de lei. O texto chegou a ser aprovado pela Câmara, mas, após fortes críticas da comunidade gay, foi vetado pelo prefeito Gilberto Kassab.

A iniciativa de Apolinário não foi a primeira do tipo no país. No Rio de Janeiro, a escola de samba Unidos da Tijuca criou banheiros exclusivos para homossexuais com a inscrição "GLS". A medida também gerou polêmica, mas, segundo a escola, a iniciativa partiu do pedido de travestis que frequentam a Unidos da Tijuca e queriam sentir-se mais à vontade no banheiro.
Factoide

Na opinião de Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a criação de um banheiro unissex é um “acinte” à inteligência humana. “Esse senhor é um criador de factoides”, afirma Reis.

Ele diz que, em vez de aumentar de dois para três os tipos de banheiro, o mais recomendável é reduzir para um. “Banheiro é apenas para necessidades, fazer maquiagem, lavar o rosto. Deve ser um lugar onde as pessoas se respeitam”, afirma. Reis classifica a iniciativa como um "apartheid". “É como ter um banheiro exclusivo para judeus ou negros”, diz.

Ao contrário da posição dos representantes da comunidade gay, o vereador Carlos Apolinário diz acreditar que o projeto é benéfico para o público homossexual e que deve receber apoio.

Banheiro foi inaugurado em janeiro pela Unidos da Tijuca


“Foi uma demanda feita por este grupo (LGBT), há bastante tempo. Eles diziam que, quando frequentavam o banheiro masculino, tinham alguns grupos de homens que podiam estar fazendo algum tipo de brincadeira. E no banheiro feminino, talvez, as mulheres não gostassem tanto”, explica Bruno Tenório, coordenador de comunicação social da Unidos da Tijuca.
Segundo a assessoria de comunicação da escola, nem travestis, nem homossexuais masculinos ou femininos se sentiam à vontade em usar os banheiros comuns. A iniciativa do banheiro LGBT tem a aprovação de componentes da ala abertamente gay da Unidos da Tijuca. “Nós queremos transformar este banheiro de homossexuais em um grande camarim para nós, homossexuais, e mais ainda para travestis e transformistas”, ressalta Edu Saad, que é coreógrafo da Unidos da Tijuca.
Para a travesti Karina Karão, banheiro exclusivo é um alívio. “Tem coisas que a gente quer fazer em um banheiro masculino, ou feminino, e não se sente a vontade. Um banheiro gay vai ser maravilhoso, porque a gente vai poder fazer o que a gente quiser”, enfatiza Karina.

Militantes do movimento LGBT criticam banheiro

Para o ativista e estilista Carlos Tufvesson, militante gay e frequentador da Unidos da Tijuca, banheiro exclusivo para homossexuais é discriminatório. “Nós lutamos pela inclusão. Nós lutamos por direitos civis iguais, o meu e o seu. O fato de eu ser homossexual não pode me tirar direitos civis que eu tenho como cidadão brasileiro”, afirma ele.

Outras quatro escolas de samba do Rio já têm banheiros para gays, lésbicas e transsexuais. A pioneira foi a Unidos do Viradouro, que inaugurou um banheiro LGBT em 2006, sem causar maiores rebuliços. Outras escolas que aderiram ao banheiro separado foram a Unidos de Vila Isabel, a Porto da Pedra e a Grande Rio.
A polêmica está aberta. “Sinceramente eu não entendo a necessidade de um banheiro gay, ou um banheiro hétero, ou um banheiro bissexual. Como a gente vai definir isso?”, indaga Tufvesson. “Eu vou adorar ter um banheiro gay especialmente para mim. Se quiser ir, vá. Se não quiser, não vá. É isso”, conclui Karina Karão.


(Notícia publicada no G1)

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"Em minha opinião como pessoa e defensor dos direitos humanos, penso que no momento em que o mundo luta para derrubar muros e segregações, há pessoas que tentam a todo custo levantá-los e segregar."
Well Castilhos 

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