por Well Castilhos
(entrevista originalmente publicada no jornal O São Gonçalo)
Depois de ser rainha da bateria da
Unidos do Porto da Pedra por dois anos, a cantora Valesca Popozuda voltou à
cidade para assumir outro título. Ela foi escolhida pela comunidade gay
gonçalense para ser madrinha da 9ª Parada da Liberdade LGBT de São Gonçalo, que
aconteceu no domingo, 16 de setembro, sob o lema de ordem “Laicidade! Liberdade! Igualdade!”. A atual
rainha do funk revela, nesta entrevista concedida ao jornalista Well Castilhos, presidente do Grupo Liberdade, organizador da Parada há 9
anos – o que a levou a aderir à luta pelos direitos de gays, lésbicas,
travestis e transexuais. No evento, Valesca esteve vestida pelo figurinista
gonçalense Leandro Pantera, num figurino especialmente feito para ela.
Você está cada vez
mais engajada como artista na luta pelos direitos das pessoas LGBT e contra o
preconceito. Por que aderiu à causa?
Eu sempre tive
contato com o público gay, sempre dei abertura para todos nos meus shows, no
camarim ou quando os encontro na rua. Porém, aderi à causa em um
show meu em 2011 onde havia muitos gays e héteros e uma confusão enorme
aconteceu quando um casal gay resolveu se beijar. Aquilo gerou um quebra-quebra
geral. Desde então resolvi lutar para que qualquer forma de amor
seja aceita e lutar contra a homofobia. É importante o apoio e ajuda da classe
artística.
Como vê a questão
da homofobia no Brasil? Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia – um dos
mais antigos grupos de defesa da cidadania homossexual no Brasil – foram
assassinados até o momento 164 gays apenas em 2012 no país. Enquanto isso, o
parlamento brasileiro ainda recua perante a possibilidade de criminalizar a
homofobia no país, a exemplo do que foi feito com o racismo...
Enquanto a Lei não
for aprovada, infelizmente esses números de violência e assassinato sempre
estarão crescentes. Eu entendo que não basta ter somente a Lei e parar por aí.
Temos que fazer um trabalho massificado na mídia, na Educação e em todos os
lugares onde pudermos mostrar ao Parlamento que os gays são vitimas constante da
homofobia. Muita coisa precisa ser feita pois as primeiras agressões começam em
casa, dentro de suas próprias famílias.
O que representa
para você ter sido escolhida pela comunidade gay de uma cidade inteira como São
Gonçalo para ser a madrinha da Parada do orgulho LGBT? A que atribui essa simpatia
junto ao público LGBT?
É uma enorme honra
primeiramente, até porque tenho um carinho imenso por São Gonçalo e amo o meu
público gay. Então poder participar de um evento desses é simplesmente casar as
duas coisas. Estou muito feliz. A simpatia é recíproca pois é um público que
sempre me acompanha desde o começo da Gaiola das Popozudas, e a cada show que
passa só vai crescendo minha admiração e carinho por esse público.
Acredita que o
funk seja um ambiente machista, por ser majoritariamente composto por
homens? Já se sentiu discriminada ou sofreu qualquer tipo de preconceito alguma
vez?
Olha, o funk mudou
muito em relação a isso. Preconceito sempre vai existir em qualquer trabalho,
por que no funk seria diferente? Eu nunca sofri discriminação até porque sempre
me impus e sempre fui muito direta com o meu trabalho. Claro que no começo
muitos pensavam: “Xíii, mulher animando um baile? Será que dá certo?” Sim,
dá muito certo e hoje em dia podemos dizer que o funk está 50% composto por
homens e 50% por mulheres. O funk é um ambiente aberto, onde pessoas de todas
as cores, gêneros, classes sociais e orientações sexuais podem livremente
manifestar suas liberdades e opiniões.
Que mensagem
mandaria para uma pessoa em conflito com seu desejo e sua orientação sexual?
Primeiramente
aceite-se! Nunca tente ser o que não é. Sinta-se bem primeiramente com você
mesmo. A aceitação tem que ser primeiramente sua, pois só assim você poderá
saber se defender e conquistar seu respeito na sociedade. Nunca se sinta
diferente de ninguém e lute sempre pelos seus direitos. A felicidade é a sua
arma.
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