terça-feira, 18 de setembro de 2012

UMA FORTE ALIADA


                             por Well Castilhos
(entrevista originalmente publicada no jornal O São Gonçalo)

Depois de ser rainha da bateria da Unidos do Porto da Pedra por dois anos, a cantora Valesca Popozuda voltou à cidade para assumir outro título. Ela foi escolhida pela comunidade gay gonçalense para ser madrinha da 9ª Parada da Liberdade LGBT de São Gonçalo, que aconteceu no domingo, 16 de setembro, sob o lema de ordem “Laicidade! Liberdade! Igualdade!”.  A atual rainha do funk revela, nesta entrevista concedida ao jornalista Well Castilhos, presidente do Grupo Liberdade, organizador da Parada há 9 anos – o que a levou a aderir à luta pelos direitos de gays, lésbicas, travestis e transexuais. No evento, Valesca esteve vestida pelo figurinista gonçalense Leandro Pantera, num figurino especialmente feito para ela.

Você está cada vez mais engajada como artista na luta pelos direitos das pessoas LGBT e contra o preconceito. Por que aderiu à causa?

Eu sempre tive contato com o público gay, sempre dei abertura para todos nos meus shows, no camarim ou quando os encontro na rua. Porém, aderi à causa  em um show meu em 2011 onde havia muitos gays e héteros e uma confusão enorme aconteceu quando um casal gay resolveu se beijar. Aquilo gerou um quebra-quebra geral. Desde  então resolvi lutar para que qualquer forma de amor seja aceita e lutar contra a homofobia. É importante o apoio e ajuda da classe artística.

Como vê a questão da homofobia no Brasil? Segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia – um dos mais antigos grupos de defesa da cidadania homossexual no Brasil – foram assassinados até o momento 164 gays apenas em 2012 no país. Enquanto isso, o parlamento brasileiro ainda recua perante a possibilidade de criminalizar a homofobia no país, a exemplo do que foi feito com o racismo... 

Enquanto a Lei não for aprovada, infelizmente esses números de violência e assassinato sempre estarão crescentes. Eu entendo que não basta ter somente a Lei e parar por aí. Temos que fazer um trabalho massificado na mídia, na Educação e em todos os lugares onde pudermos mostrar ao Parlamento que os gays são vitimas constante da homofobia. Muita coisa precisa ser feita pois as primeiras agressões começam em casa, dentro de suas próprias famílias.

O que representa para você ter sido escolhida pela comunidade gay de uma cidade inteira como São Gonçalo para ser a madrinha da Parada do orgulho LGBT? A que atribui essa simpatia junto ao público LGBT?

É uma enorme honra primeiramente, até porque tenho um carinho imenso por São Gonçalo e amo o meu público gay. Então poder participar de um evento desses é simplesmente casar as duas coisas. Estou muito feliz. A simpatia é recíproca pois é um público que sempre me acompanha desde o começo da Gaiola das Popozudas, e a cada show que passa só vai crescendo minha admiração e carinho por esse público.

Acredita que o funk seja um ambiente machista, por ser majoritariamente composto por homens? Já se sentiu discriminada ou sofreu qualquer tipo de preconceito alguma vez?

Olha, o funk mudou muito em relação a isso. Preconceito sempre vai existir em qualquer trabalho, por que no funk seria diferente? Eu nunca sofri discriminação até porque sempre me impus e sempre fui muito direta com o meu trabalho. Claro que no começo muitos pensavam: “Xíii, mulher animando um baile? Será que dá certo?” Sim, dá muito certo e hoje em dia podemos dizer que o funk está 50% composto por homens e 50% por mulheres. O funk é um ambiente aberto, onde pessoas de todas as cores, gêneros, classes sociais e orientações sexuais podem livremente manifestar suas liberdades e opiniões.

Que mensagem mandaria para uma pessoa em conflito com seu desejo e sua orientação sexual?

Primeiramente aceite-se! Nunca tente ser o que não é. Sinta-se bem primeiramente com você mesmo. A aceitação tem que ser primeiramente sua, pois só assim você poderá saber se defender e conquistar seu respeito na sociedade. Nunca se sinta diferente de ninguém e lute sempre pelos seus direitos. A felicidade é a sua arma.


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