Assassino
acaba de ser identificado, diz delegado
*por Well Castilhos
Uma
provocação de conotação homofóbica foi o estopim de uma briga que terminou no
assassinato de um jovem homossexual no bairro do Alcântara, em São Gonçalo, na
madrugada da última segunda-feira (29/04). Hoje, eu e Cláudio Nascimento,
coordenador do programa estadual Rio sem Homofobia, estivemos reunidos com o
delegado titular da 74ª DP (Alcântara), Jorge Veloso, que investiga o caso. O
delegado iniciou a conversa afirmando não se tratar de um crime de motivação
homofóbica. De acordo com o seu relato, o jovem Eliwelton da Silva Lessa, de 22
anos, estava acompanhado de dois amigos num ponto de ônibus na Estrada Raul
Veiga quando um homem que passava a pé, de aparentemente 40 anos (segundo
relataram os dois amigos da vítima à polícia), provocou os três e jogou um
beijo para Eliwelton. O rapaz se irritou com o gracejo e agrediu o homem que o
provocara. O homem, então, pegou uma barra de ferro para revidar, mas foi
impedido por outras pessoas que estavam na rua.
Cerca de 30
minutos depois, ele voltou dirigindo uma van, invadiu a calçada, atropelou
Eliwelton intencionalmente e fugiu. Por isso, o delegado acredita não se tratar
de um caso de homofobia, mas sim de vingança. O PROBLEMA ESTÁ AÍ. É incrível
como banalizam e naturalizam as provocações e chacotas contra gays e mulheres
nas ruas (beijinhos, “fiufiu” etc). O crime pode ter sido por vingança sim. Mas
não há dúvidas – e disso o delegado Veloso acabou concordando conosco, depois
de mais de uma hora de conversa – de que o elemento inicial e provocador do
crime foi o fato do homem – que não conhecia nenhum dos rapazes – tê-los
provocado, jogando o beijinho. Esse tipo de provocação passa despercebida pelas
pessoas (que até acham graça, normal e não dão a devida importância), mas para
quem sofre a provocação, dói na alma (só quem passou ou passa por isto sabe).
Obviamente
que o homem só jogou o beijinho ao jovem porque percebeu que ele era gay, da
mesma forma que pai e filho foram agredidos no interior de São Paulo por
estarem abraçados e os agressores terem pensado que eram um casal de
homossexuais. Trata-se do imaginário social machista, homofóbico e racista que
qualifica mulheres, gays e nordestinos como pessoas fracas, com as quais se
pode mexer e humilhar e torná-las motivo de chacota, especialmente quando há um
público para assistir (no caso em questão, o homem estava acompanhado de um
carroceiro, a quem ajudava). Um exemplo: recentemente, três jovens
norte-americanos estupraram uma moça e jogaram o vídeo na internet. Na avidez
de mostrar a dominação e humilhação ao mundo, esqueceram-se que estupro é
crime.
O delegado
do caso acontecido em São Gonçalo informou que, embora ainda não exista um
amparo legal no Brasil para a população LGBT (a homofobia ainda não é crime no
país), como existe para as mulheres (Lei Maria da Penha), os gays, as lésbicas,
as travestis e os/as transexuais podem, em vez de revidar à provocação,
procurar a polícia e dar parte do provocador por crime de injúria. Mas será
que, justamente pela banalização social deste tipo de provocação, a polícia
acolheria a denúncia?
Não quero
justificar o fato de o rapaz ter revidado a provocação com agressão física ao
homem, mas sabe-se lá quantas vezes em sua vida ele pode ter sido vítima de
chacotas do tipo. Talvez tenha chegado ao seu limite. Concordo que, ao se
deparar com este tipo de situação, não se deve revidar, e sim buscar o estado
de direito. Mas para isso, todos temos que colaborar, inclusive um delegado de
polícia, que deve se esforçar mais para enxergar a homofobia escondida nas
entrelinhas de determinadas situações corriqueiras em suas delegacias. Enquanto
isso não acontecer, como nos sentiremos à vontade para procurar amparo na
polícia quando sofrermos esse tipo de “gracinha” vinda de pessoas que nem ao
menos nos conhecem?
Tenho
certeza que o delegado Jorge Veloso, em sua experiência e notória sensibilidade
ao tema (notei que ele, em todo o tempo de nossa conversa, usava corretamente o
termo “orientação sexual”) é um de nossos aliados nesta causa. A prova de seu
interesse em elucidar o caso é que agora, às 21h58 desta sexta-feira, quando
terminava de escrever este texto, recebi um telefonema do delegado Veloso que
me informou que o assassino já foi identificado: seu nome é Helio Galdino
Vieira, 38 anos. A polícia espera agora o juiz expedir o mandado de prisão, e
Galdino passa então a ser foragido. Já
há inclusive um retrato seu em posse da polícia. Conto com a participação de
tod@s na disseminação destas informações. Postarei a foto assim que a tiver.
*Well Castilhos é
jornalista, especialista em gênero e sexualidade pelo CLAM/UERJ, fundador do
Grupo Liberdade de Direitos Humanos de São Gonçalo e Superintendente de
Políticas da Sexualidade da Secretara de Direitos Humanos de Maricá.
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