Texto publicado no jornal O Sâo Gonçalo em 17/5/2011
Engana-se, contudo, quem pensou que o dia da cerimônia tenha sido escolhido por influência de tais simbolismos. Como disse de forma bem humorada um dos padrinhos e testemunha do episódio histórico, o dentista Eugênio Rocha, 49, os dois já estavam mais do que na hora de desencalhar. Após seis anos de relacionamento e um ano morando juntos, o casal, finalmente, resolveu dar entrada na união civil, que já é realizada desde 2005. Em meio à entrega de documentos e agilização do processo, o STF decidiu equiparar as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres, reconhecendo-a como um núcleo familiar como qualquer outro.
“Quando a decisão foi anunciada, pensei: ‘se é um direito meu, vou exercê-lo’. Na verdade, isso é bem mais do que um direito, é um brinde à democracia em uma sociedade que se diz igualitária, mas ainda é cheia de preconceitos”, comentou Uesliz.
Lotado no Quartel Central do Corpo de Bombeiros, na Praça da República, ele acrescentou que já espera uma retaliação dentro da própria corporação, mas se diz preparado para enfrentá-la.
“Sempre fui respeitado no meu trabalho pelo meu profissionalismo, mas apenas uma tenente sabia que eu era gay. Amanhã, acho que todo mundo vai ficar sabendo”, brincou.
Pai de dois filhos, de 7 e 16 anos, Ezequiel trata a questão com a mesma naturalidade que o companheiro.
Às 11h32 de ontem, 17 de maio de 2011, no Cartório do 1º Ofício de Justiça de São Gonçalo, na presença das testemunhas João Testhy, 52, e Eugênio Rocha, 49, e do escrevente Fabiano Barros, Uesliz Rangel e Ezequiel Solteiro entraram para a história como o primeiro casal gay a confirmar a união estável em São Gonçalo.
“Eu vejo como um marco, uma vitória adquirida pelos movimentos sociais que lutaram por isso. Sinto-me privilegiado por tornar-me instrumento da concretização do sonho desse casal”, comemorou o tabelião Reginaldo José da Silva Neto, 50, acrescentando que outros cinco casais já procuraram o cartório para confirmar a união.
Presidente do Grupo Liberdade LGBT de São Gonçalo e organizador da Parada Gay de São Gonçalo, o jornalista Well Castilhos afirmou que o evento desse ano será uma celebração à conquista dos casais gonçalenses e de tantos outros no país.
Coronel polemiza com governador
“Podem botar carros de bombeiros e de polícia. O amor não deve ser razão de nenhum tipo de discriminação. Vemos isso em todas as cidades desenvolvidas do mundo, como Nova York e Paris. Por que não aqui?”, indagou o governador, que acabou sendo contrariado pelo comandante geral da PM, coronel Mario Sérgio Duarte, na tarde de ontem.
“A PM apoia todo tipo de manifestação da sociedade, principalmente uma grandiosa como essa. Mas o regimento interno proíbe o uso de uniforme e equipamentos, como viaturas, fora do trabalho. Nós respeitamos a individualidade de cada policial. Ele poderá ir sem uniforme, se estiver fora do horário de trabalho. A PM é uma instituição que respeita e não interfere na orientação de cada um, mas enquanto instituição, quer se manter viril”, polemizou.
Decisão do Supremo
Ezequiel e Uesliz trocam alianças no cartório: compromisso firmado (Foto: Renato Fonseca) :: São Gonçalo sem preconceito
No Dia Internacional contra a Homofobia (17 de maio), São Gonçalo entrou para a história na luta contra o preconceito com a realização da primeira união estável homoafetiva realizada no município, ocorrida na manhã de ontem. O enlace conjugal entre o primeiro tenente do Corpo de Bombeiros Uesliz Rangel, de 30 anos, e o comerciante Ezequiel Solteiro Figueira, 45, aconteceu doze dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer - por unanimidade - as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo. A data torna-se ainda mais emblemática por coincidir com a campanha 'Rio sem Homofobia', lançada pelo Governo do Estado, na última segunda-feira.
Engana-se, contudo, quem pensou que o dia da cerimônia tenha sido escolhido por influência de tais simbolismos. Como disse de forma bem humorada um dos padrinhos e testemunha do episódio histórico, o dentista Eugênio Rocha, 49, os dois já estavam mais do que na hora de desencalhar. Após seis anos de relacionamento e um ano morando juntos, o casal, finalmente, resolveu dar entrada na união civil, que já é realizada desde 2005. Em meio à entrega de documentos e agilização do processo, o STF decidiu equiparar as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres, reconhecendo-a como um núcleo familiar como qualquer outro.
“Quando a decisão foi anunciada, pensei: ‘se é um direito meu, vou exercê-lo’. Na verdade, isso é bem mais do que um direito, é um brinde à democracia em uma sociedade que se diz igualitária, mas ainda é cheia de preconceitos”, comentou Uesliz.
Lotado no Quartel Central do Corpo de Bombeiros, na Praça da República, ele acrescentou que já espera uma retaliação dentro da própria corporação, mas se diz preparado para enfrentá-la.
“Sempre fui respeitado no meu trabalho pelo meu profissionalismo, mas apenas uma tenente sabia que eu era gay. Amanhã, acho que todo mundo vai ficar sabendo”, brincou.
Pai de dois filhos, de 7 e 16 anos, Ezequiel trata a questão com a mesma naturalidade que o companheiro.
“Nunca contei para os meus filhos que sou homossexual, mas eles freqüentam nossa casa, saem conosco e nos respeitam. Isso é muito importante para mim. Faltava apenas confirmar isso tudo”, disse.
Às 11h32 de ontem, 17 de maio de 2011, no Cartório do 1º Ofício de Justiça de São Gonçalo, na presença das testemunhas João Testhy, 52, e Eugênio Rocha, 49, e do escrevente Fabiano Barros, Uesliz Rangel e Ezequiel Solteiro entraram para a história como o primeiro casal gay a confirmar a união estável em São Gonçalo.
Com a união confirmada em 'papel passado' -e, claro, selada com a troca de alianças e o beijo - os dois passam a ter os mesmos direitos de um casal heterossexual, como pensão, divisão de bens em caso de separação e facilidade na adoção de uma criança. Dessa forma, Ezequiel passa a ter acesso aos benefícios como cônjuge de militar, como atendimento médico e odontológico.
“Eu vejo como um marco, uma vitória adquirida pelos movimentos sociais que lutaram por isso. Sinto-me privilegiado por tornar-me instrumento da concretização do sonho desse casal”, comemorou o tabelião Reginaldo José da Silva Neto, 50, acrescentando que outros cinco casais já procuraram o cartório para confirmar a união.
Sobre o local da lua de mel, Ezequiel e Uesliz ainda estavam na dúvida entre Campos de Jordão e Poços de Caldas.
Parada Gay celebrará momento histórico
Presidente do Grupo Liberdade LGBT de São Gonçalo e organizador da Parada Gay de São Gonçalo, o jornalista Well Castilhos afirmou que o evento desse ano será uma celebração à conquista dos casais gonçalenses e de tantos outros no país.
“A decisão do STF abriu as portas para os direitos já assegurados em nossa Constituição. É maravilhoso poder viver bem com quem você quer. O Supremo tomou para si essa responsabilidade e demonstrou seu descontentamento com o Legislativo, que há décadas furta os direitos dos casais homoafetivos”, comemorou Castilhos, convidando o casal histórico para a 8ª edição da Parada Gay do município, marcada para 14 de agosto.
Coronel polemiza com governador
A campanha Rio Sem Homofobia veiculará mensagens para reforçar a luta do movimento GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transsexuais) contra o preconceito. No lançamento da campanha, na última segunda-feira, o governador Sérgio Cabral autorizou funcionários públicos gays, incluindo bombeiros e PMs fardados, a participar da Parada Gay, em Copacabana, em novembro.
“Podem botar carros de bombeiros e de polícia. O amor não deve ser razão de nenhum tipo de discriminação. Vemos isso em todas as cidades desenvolvidas do mundo, como Nova York e Paris. Por que não aqui?”, indagou o governador, que acabou sendo contrariado pelo comandante geral da PM, coronel Mario Sérgio Duarte, na tarde de ontem.
“A PM apoia todo tipo de manifestação da sociedade, principalmente uma grandiosa como essa. Mas o regimento interno proíbe o uso de uniforme e equipamentos, como viaturas, fora do trabalho. Nós respeitamos a individualidade de cada policial. Ele poderá ir sem uniforme, se estiver fora do horário de trabalho. A PM é uma instituição que respeita e não interfere na orientação de cada um, mas enquanto instituição, quer se manter viril”, polemizou.
Entre as ações contra a homofobia, Cabral assinará o decreto de reconhecimento e regulamentação do uso do nome social por travestis e transsexuais. A partir do dia 28, o chamado 'nome de guerra' estará liberado em orgãos públicos estaduais. Ele já havia anunciado a regulamentação da visita íntima para gays em presídios.
Decisão do Supremo
No último dia 5, o STF decidiu equiparar as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres. Na prática, a união homoafetiva foi reconhecida como um núcleo familiar. O reconhecimento de direitos de casais gays e a condenação da discriminação e de atos violentos contra homossexuais foram unânimes.
Os ministros Marco Aurélio e Celso de Mello ressaltaram que o caráter laico do Estado impede que a moral religiosa sirva de parâmetro para limitar a liberdade das pessoas. Já Celso de Mello afirmou que o Estado deve dispensar às uniões homoafetivas o mesmo tratamento atribuído às uniões estáveis heterossexuais.
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